Lidos (janeiro/06)
Bom, não sou crítico literário nem intento ser, mas a gente sempre fica afim de comentar um livro assim que fecha a contra capa, esse mês foi um recorde graças as férias da faculdade, espero não ter esquecido nenhum, se o fiz foi porque mereceu :)
As Intermitências da Morte - José Saramago
- Me tornei grande fã do Saramago desde que fui apresentado a ele pelo meu companheiro de blog em "Ensaio Sobre a Cegueira", tenho tentado acompanhar tudo dele desde então, perdôo seus altos e baixos e relevo suas idéias repetidas, mas esse livro apesar de fino (200pgs) foi um dos mais difíceis de terminar, o livro conta a história de uma cidade em que no dia primeiro de janeiro determinado ano as pessoas param de morrer, as consequências causadas pelo evento são bem inventivas e interessantes, mas a narrativa que em "Ensaio" era uma das coisas mais interessantes e o que mais me atraía no autor é um pouco enfadonha, repetitiva e extremamente informal a ponto de parecer por vezes um papo de bêbado, que não vai nunca pra frente e fica ali batendo na mesma tecla e conversando por horas sobre a mesma coisa, abrindo parênteses de parênteses e esquecendo-se de concluir os nós da própria história que por si só vai se tornando desinteressante quando pára de falar sobre a consequência da não-morte no povo daquela cidade e passa a enfocar a vida e os problemas do personagem morte.
Ponto de Impacto - Dan Brown
- Nas vésperas das eleições presidenciais é descoberto no ártico um meteoro contendo evidências de vida extra-terrestre. "Putz!" - vocês estão pensando - "que merda."
O que eu posso fazer? Dan Brown é mesmo meu guilty pleasure, o bestsellerista d"O Código Da Vinci" vem mais uma vez com seu template nervoso e cinematográfico, dessa vez no lugar de Opus Dei e Priorado de Sião os personagens são a NASA e a Casa Branca e ciência e política dão tanto ou mais pano pra manga que religião e arte.
O livro é tudo que você espera e segue certinho a receita Brown, tudo se passa em 24h e é impossível larga-lo no meio. Se, como dizem, só existem 15 histórias no mundo, Dan Brown achou sua e não vai parar de recontá-la, esse cara naturalmente vai se tornar o Sheldon da vez e como tal vai ser odiado pelos literatos e amado por todas as pessoas que só leram um livro na vida, mas foda-se, eu posso ficar com o caminho do meio dessa vez. ;)
A Casa dos Budas Ditosos - Joao Ubaldo Ribeiro
- Dica da Sayuri, que se divertiu horrores com o livro e me fez ler. Rápido, divertido e despretencioso, "A Casa dos Budas Ditosos" conta as memórias de uma velha que foi uma devassa em juventude, não tem propriamente uma história e os pensamentos da narradora vão saindo naturalmente de forma super informal, os 'causos' vão se misturando à comentários, se misturando à opiniões, se misturando à fatos novamente, como uma grande bola de neve que vai rolando sem que ninguém a empurre, sem pretensões de amarrar pontas soltas ou concluir todos os personagens e embora o tema seja sexo e vícios não tem nada de chocante ou assombroso, só alegria. :)
A Cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom
- Dica do Luiz, esse livro é a cara dele por ter um começo meio péla :), uma escrita às vezes quase-poética-afetada, mas depois das primeiras vinte páginas de má vontade o livro acabou descendo muito bem, embora por vezes pareça mais um livro didático de psicologia do que propriamente um romance. A história é sobre um terapeuta que reencontra um paciente antigo que ele nunca conseguiu curar e descobre que ele se curou sozinho lendo Schopenhauer, mas que se tornou uma pessoa socialmente inapta, o terapeuta o convida para suas seções de terapia em grupo e a história discorre a partir daí com os conflitos do grupo tomando a maior parte do argumento. O livro alterna capítulos dedicados à história com outros contando a biografia de Schopenhauer, o que por vezes me fez lembrar a estrutura de O Mundo de Sofia, mas felizmente Irvin Yalom é bem sucedido em suas intenções, e "A Cura de Schopenhauer" é algumas vezes melhor que o cultuado e superestimado livro de Josten Gaardner.
No Sufoco - Chuck Palahniuk
- Chuck Palahniuk é atualmente o meu autor preferido no mundo. É mais conhecido pelo premiado Fight Club (Clube da Luta) filmado em 1999 por David Fincher e de seus 7 livros lançados lá fora apenas 3 haviam sido publidados em português. Mês passado a Rocco lançou o quarto, No Sufoco (Choke no original).
No Sufoco é, como todos os livros de Palahniuk, uma genial e nausante história de amor (por vias tortas), uma narrativa claustrofóbica e uma obra-prima de humor-negro. É de se ler com lápis na mão, sublinhando aqui e ali as ácidas e instigantes observações de Victor Mancini, o anti-herói que protagoniza o livro.
Como geralmente acontece, depois de ler alguns livros do mesmo autor você invariavelmente nota seus cacoetes e vicíos de escrita e de idéias, mas como eu digo à quem o recrimina, "se eu quisesse ler um livro do Palahniuk que não tivesse nada a ver com um livro do Palahniuk eu não estaria lendo um livro do Palahniuk", por mais óbvio que possa parecer nós automaticamente recriminamos aqueles que se copiam indefinidamente por mais valiosa que sua idéia original seja. Mesmo observação se aplica aí acima para Saramago e Dan Brown, reconheco seus vícios e cacoetes mas se eu não quisesse ler um Dan Brown eu não teria pego um Dan Brown pra ler. :)
Choke apesar de genial em comparação a muita coisa por aí, é dentro da bibliografia Palahniuk apenas mais do mesmo e seu romance menos interessante publicado no Brasil. Recomendo para fãs, mas para se apaixonar pelo autor procure um dos outros 3 livros lançados por aqui primeiro.
A Grande Caçada aos Tubarões - Hunter. S. Thompson
- Thompson foi um cara altamente alucinado que deixou uma marca pelo seus estilo de escrever em que realidade e ficção se misturam livremente o tempo todo, criou o chamado gonzo jornalism em que o repórter sujeito da noticia e ela se faz através de anotações e transcrições de fita e não por textos propriamente escritos, seu livro Medo e Desespero em Las Vegas virou um filme totalmente psicodélico de Terry Gilliam com Johnny Depp no papel do próprio Thompson. O livro em questão aqui é uma coletânea de artigos escritos para a Rolling Stone e Playboy entre 1960 e 1970. Por escrever artigos no ponto de vista próprio, o livro acaba sendo meio auto-biográfico e algumas das melhores crônicas para nós, fatalmente são as que narram sua passagem pelo Brasil e suas observações dos hábitos dos nativos.
Pilatos - Carlos Heitor Cony
- Rodolfo me emprestou esse e eu o aceitei de bom grado muito mais baseado na sinopse do que em qualquer outra coisa. Veja se não é do caralho (com trocadilho, por favor): "Homem sofre acidente e tem seu pênis amputado, a partir daí passa a carregá-lo dentro de um pote de conservas para onde quer que vá", é original e dá margem à uma quantidade infinita de piadas, principalmente quando você se dá conta de que a primeira amizade que ele faz depois do acidente é com um viciado em sexo.
No entanto o livro se mostra bem menos do que eu esperava, as piadas não são engraçadas e o estilo de escrever é tão sem rumo que você por vezes se pergunta "o que eu tô fazendo aqui?", personagens importantes somem e novos aparecem e os contos (todos ótimos) de um dos personagens interrompem a história vez por outra sem acrescentar nada para a mesma. Enfim, um livro curioso, de um autor importante e que eu não conhecia, mas um texto quase datado, que claramente foi escrito nos anos 70 e provavelmente sob uso de alucinóginos. :)
O Xangô de Baker Street - Jô Soares
- Enquanto meus pedidos no Submarino e na Sodiler não chegavam me arrisquei nesse que era o último da estante que eu ainda não tinha lido, dei pro meu pai na época do lançamento (1996) porque tinha alguma curiosidade mórbida de ler depois, mas nunca tive saco, nem meu pai, e o livro amarelou na estante sem que ninguém jamais o tivesse lido.
Antes tivesse permanecido assim, ao longo de 320 páginas Jô Soares se alonga num suposto mistério policial que não fode nem sai de cima, a história não cresce e nem se torna interessante em nenhum momento. Ora veja você que num suposto mistério de 320 páginas você não ganha nenhuma pista decente até a página 170 e então na 200 você ganha uma pista ultra óbvia e na 220 uma pista óbvia q concorda com a outra. Então, num dado momento você não sabe de nada e no outro você tem certeza de tudo, o livro não te faz se interessar pelo grande mistério e nem te convida a desvendar o caso, mas e sim te deixa alheio assistindo um festival de gags sem graça e um desfile de personagens históricos do Brasil império interagindo entre si apenas para mostrar que a pesquisa do autor foi caprichada o bastante para lhe confirmar como resposta padrão de pessoas burras para a pergunta "pessoa inteligente?".
As Intermitências da Morte - José Saramago
- Me tornei grande fã do Saramago desde que fui apresentado a ele pelo meu companheiro de blog em "Ensaio Sobre a Cegueira", tenho tentado acompanhar tudo dele desde então, perdôo seus altos e baixos e relevo suas idéias repetidas, mas esse livro apesar de fino (200pgs) foi um dos mais difíceis de terminar, o livro conta a história de uma cidade em que no dia primeiro de janeiro determinado ano as pessoas param de morrer, as consequências causadas pelo evento são bem inventivas e interessantes, mas a narrativa que em "Ensaio" era uma das coisas mais interessantes e o que mais me atraía no autor é um pouco enfadonha, repetitiva e extremamente informal a ponto de parecer por vezes um papo de bêbado, que não vai nunca pra frente e fica ali batendo na mesma tecla e conversando por horas sobre a mesma coisa, abrindo parênteses de parênteses e esquecendo-se de concluir os nós da própria história que por si só vai se tornando desinteressante quando pára de falar sobre a consequência da não-morte no povo daquela cidade e passa a enfocar a vida e os problemas do personagem morte.
Ponto de Impacto - Dan Brown
- Nas vésperas das eleições presidenciais é descoberto no ártico um meteoro contendo evidências de vida extra-terrestre. "Putz!" - vocês estão pensando - "que merda."
O que eu posso fazer? Dan Brown é mesmo meu guilty pleasure, o bestsellerista d"O Código Da Vinci" vem mais uma vez com seu template nervoso e cinematográfico, dessa vez no lugar de Opus Dei e Priorado de Sião os personagens são a NASA e a Casa Branca e ciência e política dão tanto ou mais pano pra manga que religião e arte.
O livro é tudo que você espera e segue certinho a receita Brown, tudo se passa em 24h e é impossível larga-lo no meio. Se, como dizem, só existem 15 histórias no mundo, Dan Brown achou sua e não vai parar de recontá-la, esse cara naturalmente vai se tornar o Sheldon da vez e como tal vai ser odiado pelos literatos e amado por todas as pessoas que só leram um livro na vida, mas foda-se, eu posso ficar com o caminho do meio dessa vez. ;)
A Casa dos Budas Ditosos - Joao Ubaldo Ribeiro
- Dica da Sayuri, que se divertiu horrores com o livro e me fez ler. Rápido, divertido e despretencioso, "A Casa dos Budas Ditosos" conta as memórias de uma velha que foi uma devassa em juventude, não tem propriamente uma história e os pensamentos da narradora vão saindo naturalmente de forma super informal, os 'causos' vão se misturando à comentários, se misturando à opiniões, se misturando à fatos novamente, como uma grande bola de neve que vai rolando sem que ninguém a empurre, sem pretensões de amarrar pontas soltas ou concluir todos os personagens e embora o tema seja sexo e vícios não tem nada de chocante ou assombroso, só alegria. :)
A Cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom
- Dica do Luiz, esse livro é a cara dele por ter um começo meio péla :), uma escrita às vezes quase-poética-afetada, mas depois das primeiras vinte páginas de má vontade o livro acabou descendo muito bem, embora por vezes pareça mais um livro didático de psicologia do que propriamente um romance. A história é sobre um terapeuta que reencontra um paciente antigo que ele nunca conseguiu curar e descobre que ele se curou sozinho lendo Schopenhauer, mas que se tornou uma pessoa socialmente inapta, o terapeuta o convida para suas seções de terapia em grupo e a história discorre a partir daí com os conflitos do grupo tomando a maior parte do argumento. O livro alterna capítulos dedicados à história com outros contando a biografia de Schopenhauer, o que por vezes me fez lembrar a estrutura de O Mundo de Sofia, mas felizmente Irvin Yalom é bem sucedido em suas intenções, e "A Cura de Schopenhauer" é algumas vezes melhor que o cultuado e superestimado livro de Josten Gaardner.
No Sufoco - Chuck Palahniuk
- Chuck Palahniuk é atualmente o meu autor preferido no mundo. É mais conhecido pelo premiado Fight Club (Clube da Luta) filmado em 1999 por David Fincher e de seus 7 livros lançados lá fora apenas 3 haviam sido publidados em português. Mês passado a Rocco lançou o quarto, No Sufoco (Choke no original).
No Sufoco é, como todos os livros de Palahniuk, uma genial e nausante história de amor (por vias tortas), uma narrativa claustrofóbica e uma obra-prima de humor-negro. É de se ler com lápis na mão, sublinhando aqui e ali as ácidas e instigantes observações de Victor Mancini, o anti-herói que protagoniza o livro.
Como geralmente acontece, depois de ler alguns livros do mesmo autor você invariavelmente nota seus cacoetes e vicíos de escrita e de idéias, mas como eu digo à quem o recrimina, "se eu quisesse ler um livro do Palahniuk que não tivesse nada a ver com um livro do Palahniuk eu não estaria lendo um livro do Palahniuk", por mais óbvio que possa parecer nós automaticamente recriminamos aqueles que se copiam indefinidamente por mais valiosa que sua idéia original seja. Mesmo observação se aplica aí acima para Saramago e Dan Brown, reconheco seus vícios e cacoetes mas se eu não quisesse ler um Dan Brown eu não teria pego um Dan Brown pra ler. :)
Choke apesar de genial em comparação a muita coisa por aí, é dentro da bibliografia Palahniuk apenas mais do mesmo e seu romance menos interessante publicado no Brasil. Recomendo para fãs, mas para se apaixonar pelo autor procure um dos outros 3 livros lançados por aqui primeiro.
A Grande Caçada aos Tubarões - Hunter. S. Thompson
- Thompson foi um cara altamente alucinado que deixou uma marca pelo seus estilo de escrever em que realidade e ficção se misturam livremente o tempo todo, criou o chamado gonzo jornalism em que o repórter sujeito da noticia e ela se faz através de anotações e transcrições de fita e não por textos propriamente escritos, seu livro Medo e Desespero em Las Vegas virou um filme totalmente psicodélico de Terry Gilliam com Johnny Depp no papel do próprio Thompson. O livro em questão aqui é uma coletânea de artigos escritos para a Rolling Stone e Playboy entre 1960 e 1970. Por escrever artigos no ponto de vista próprio, o livro acaba sendo meio auto-biográfico e algumas das melhores crônicas para nós, fatalmente são as que narram sua passagem pelo Brasil e suas observações dos hábitos dos nativos.
Pilatos - Carlos Heitor Cony
- Rodolfo me emprestou esse e eu o aceitei de bom grado muito mais baseado na sinopse do que em qualquer outra coisa. Veja se não é do caralho (com trocadilho, por favor): "Homem sofre acidente e tem seu pênis amputado, a partir daí passa a carregá-lo dentro de um pote de conservas para onde quer que vá", é original e dá margem à uma quantidade infinita de piadas, principalmente quando você se dá conta de que a primeira amizade que ele faz depois do acidente é com um viciado em sexo.
No entanto o livro se mostra bem menos do que eu esperava, as piadas não são engraçadas e o estilo de escrever é tão sem rumo que você por vezes se pergunta "o que eu tô fazendo aqui?", personagens importantes somem e novos aparecem e os contos (todos ótimos) de um dos personagens interrompem a história vez por outra sem acrescentar nada para a mesma. Enfim, um livro curioso, de um autor importante e que eu não conhecia, mas um texto quase datado, que claramente foi escrito nos anos 70 e provavelmente sob uso de alucinóginos. :)
O Xangô de Baker Street - Jô Soares
- Enquanto meus pedidos no Submarino e na Sodiler não chegavam me arrisquei nesse que era o último da estante que eu ainda não tinha lido, dei pro meu pai na época do lançamento (1996) porque tinha alguma curiosidade mórbida de ler depois, mas nunca tive saco, nem meu pai, e o livro amarelou na estante sem que ninguém jamais o tivesse lido.
Antes tivesse permanecido assim, ao longo de 320 páginas Jô Soares se alonga num suposto mistério policial que não fode nem sai de cima, a história não cresce e nem se torna interessante em nenhum momento. Ora veja você que num suposto mistério de 320 páginas você não ganha nenhuma pista decente até a página 170 e então na 200 você ganha uma pista ultra óbvia e na 220 uma pista óbvia q concorda com a outra. Então, num dado momento você não sabe de nada e no outro você tem certeza de tudo, o livro não te faz se interessar pelo grande mistério e nem te convida a desvendar o caso, mas e sim te deixa alheio assistindo um festival de gags sem graça e um desfile de personagens históricos do Brasil império interagindo entre si apenas para mostrar que a pesquisa do autor foi caprichada o bastante para lhe confirmar como resposta padrão de pessoas burras para a pergunta "pessoa inteligente?".
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